Situada no Largo da Viscondessa, a Capela de Nossa Senhora da Guia foi, provavelmente, mandada construir por mareantes, reedificada pelo bispo D. Rodrigo Pinheiro, depois por D. Fernando de Lacerda e finalmente edificada em 1890, a expensas de D. Maria Dias de Sousa, Viscondessa de Santa Cruz do Bispo. No seu interior encontra-se a imagem, datada do século XV, de Nossa Senhora da Guia de policromada, pedra ançã*.
A Senhora da Guia era muito venerada, outrora, pelos navegantes e pelos povos da Maia e Bouças, sendo alvo, de uma grande romaria.
* A pedra portuguesa de Ançã é uma pedra calcária, branca, sem veios, muito macia, o que a tornou preferida pelos escultores, desde o século XIV. As obras realizadas espalham-se por todo o Portugal, grande parte de Espanha e chegaram a quase toda a Europa.
A VISCONDESSA
D. Maria Dias de Sousa, a quem a freguesia conhece como Veneranda Viscondessa de Santa Cruz do Bispo, nasceu nesta terra em 30 de Dezembro de 1816. Descendia de família pobre e não sabia escrever. Casou em Santa Cruz do Bispo, a 24 de Fevereiro de 1837, com António Francisco Pereira, um marítimo que foi capitão da Marinha Mercante, conhecido por “Mirão”. Não teve filhos.
Herdou avultada fortuna do Brasil, legada por seu tio José Dias de Sousa, falecido em Porto Alegre, em 1865.
Viveu a maior parte da sua vida no lugar da Ponte, da freguesia de Matosinhos, mas, com seu marido, esteve profundamente ligada à vida social e religiosa da sua terra natal. Nos livros paroquiais do seu tempo faz-se abundante referência do relacionamento com a freguesia que engrandeceu, de um modo já mais ultrapassado.
Nos livros das Atas da, outrora, importante Confraria do Santíssimo Sacramento encontra-se a ficha de inscrição, de Maria Dias de Sousa e seu marido, como irmãos honorários, admitidos em 15 de Dezembro de 1865. Foram também admitidos para a Irmandade de Nossa Senhora do Livramento, em 1866, como consta também do livro de atas desse tempo, assim como dos registos de Irmãos, sendo-lhes atribuídos os números 68 e 67 respetivamente.
A partir dessas datas reafirmaram de um modo cada vez mais influente a ligação com a vida da freguesia. Encetaram toda uma série de empreendimentos em benefício da Irmandade de Nossa Senhora do Livramento, quer da Igreja Paroquial, quer da Comunidade em geral. Os livros paroquiais e os documentos da irmandade zelosamente guardados no Arquivo da Paróquia. Pelos mesmos documentos conta que em 31 de Janeiro de 1885 faleceu o marido da Viscondessa, António Francisco Pereira, cujo nome continua visível nas lápides das capelas de Nossa Senhora da Guia e de Nossa Senhora do Livramento e em retratos a óleo na Sacristia e em São Brás. Em ata de 5-2-1885, a Irmandade de Nossa Senhora do Livramento “manifesta voto de profundo sentimento, manda rezar missa na capela, manda distribuir esmolas aos pobres e manifestar à esposa, viúva, D. Maria Dias de Sousa, o respeito mais sagrado” (Cfr. P. 36). A mesma Irmandade não só considerou os seus benfeitores como sócios honorários como lhes atribuiu a categoria máxima de Juízes honorários.