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O Bispo D. Rodrigo Pinheiro, entre 1552-1572, estabeleceu nas margens do Rio Leça a mais famosa estância de repouso e meditação dos prelados portuenses, a Quinta de Santa Cruz de Riba Leça, assim se chamava.

O edifício principal da vivenda prelatícia foi delineada pelo próprio Bispo na idade de 70 anos. Durante um decénio, ergueu-se o conjunto arquitectónico e paisagístico da mansão episcopal: trabalhos de granito, ermidas, fontes de pedraria, luxuriosa vegetação, etc.. A dedicação e zelo pela Quinta foi, para o seu fundador, ocasião para acerbas críticas, preferindo alguns que, no local, se construísse um Seminário. A um amigo fez o Bispo a seguinte confidência: “Não tenho ânimo de a (Quinta) edificar para mim ou para os meus senão para os Bispos meus sucessores, pelos quais temo este trabalho.”

A Quinta era de tal grandeza e imponência, enquadrados os sumptuosos edifícios e admiráveis trabalhos em granito na mais exuberante e luxuriosa vegetação e recheado de fontanários de águas filosofantes, recolhidas ermidas e recantos artisticamente dispostos e floridos, que foi comparada com as mais belas propriedades de Espanha, Toscana ou Roma. 

TRANSFORMAÇÃO DA QUINTA EM PATRIMÓNIO MUNICIPAL : POSTO AGRÁRIO E COLÓNIA PENAL
Em 1910, com o advento da República, o património da Quinta de Santa Cruz do Bispo passou definitivamente da Igreja para o Estado. Em 1913 foi cedida pelo Ministério da Justiça ao do Fomento para nela se instalar o Posto Agrário do Minho Litoral, dada a ampla superfície de terras aráveis, lameiros e arvoredos. O eng. agrónomo Augusto Leite Pereira Brittes Jardim foi, em 1916, o primeiro responsável por todos os serviços do Posto. Além da função específica, apareceu, de novo, um homem providencial que procurou reconstruir a Quinta de Santa Cruz do Bispo de modo a manter-se, quanto possível, o aspecto primitivo. Reparou por completo o arruado da entrada (Rua do Anjo), reconstruiu o jardim anexo à moradia, obedecendo a graciosas formas geométricas (esse maravilhoso jardim foi posteriormente destruído). Procedeu à reparação da parte principal das ruínas da velha casa senhorial anti-portuguesa, sobrepujada pela arma dos Pinheiros (Palácio D. Mafalda), à reconstituição de fontes, cascatas, pórticos de granito, tanques entre os quais o “tanque da serpente”, consertou as escadarias como seja o efectuado no escadório rústico que liga aquele tanque com a majestosa cascata do “focinho de porco”, ensombrada por gigantescos castanheiros. Essa pitoresca queda de água foi posteriormente ornamentada com a construção de um lago, jardim e novos caminhos e estradas. Tudo isso permanece hoje em dia.

Há anos o organizador do Museu Grão-Vasco de Viseu, Francisco de Almeida Moreira, conseguiu licença para retirar e levar retábulos, crucifixos, azulejos, assim como a valiosa colecção de tábuas setecentistas que pertenceram à Quinta de Santa Cruz do Bispo. Esse património artístico foi levado a título devolutivo. Existe, com efeito, documentos desse depósito no Cofre da Câmara de Matosinhos, podendo esta exigir a sua devolução.

Em 1939 transitou a Quinta, de novo, para o Ministério da Justiça, instalando-se aí a Colónia Penal. Realizaram-se as obras para adaptação a tal finalidade. Construiu-se o Pavilhão Prisional e outras dependências. Pelas adaptações realizadas, foram, infelizmente, alteradas as linhas arquitectónicas do Palácio D. Mafalda, tendo desaparecido a pedra de armas quinhentista, que recordava pelos séculos fora a figura do seu insigne fundador.

PORTÃO NASONI

De todos os portões o da entrada, que mede 12,75 metros de comprimento, é uma obra arquitectónica de particular interesse. É uma versão maior dos portões com janelas laterais do Viso e Bonjóia, e apresenta dois elementos importantes na forma do arco central e na cultura do rico remate. É, com certeza, uma obra de Nicolau Nasoni. Para este arco Nasoni escolheu um perfil trilobado, repetindo, assim uma das características da arquitectura manuelina que sobreviveu na talha do fim do século XVII e começo do século XVIII. Este arco, segundo os críticos da arte, representa mais um indício e argumento sobre a influência da arte portuguesa do passado na arquitectura Nasoni. Da sua triple forma nasce o ritmo de toda a parte superior da grande portada, delimitada por uma moldura horizontal. No meio do arco levanta-se a faustosa pedra de armas do Bispo D. José Maria Fonseca e Évora, de forma caprichosa, rodeada de cordas.

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